A produtividade da água

Através das diretrizes propostas pela divisão de estatística das Nações Unidas, o IBGE divulgou uma pesquisa que tem como objetivo avaliar periodicamente os indicadores-chave envolvendo a integração dos dados físicos e monetários da água. Essa pesquisa apresenta a participação das atividades econômicas e das famílias nos fluxos de retiradas de água e de retornos (ou devolução) ao meio ambiente. Mas o que significa essa pesquisa, e como devemos fazer a leitura desses indicadores?

 

Análises de Insumo-Produto

A economia opera numa vasta rede de atividades. Os modelos de insumo-produto nos permitem construir uma ‘fotografia econômica’ desta rede, mostrando como os setores se relacionam entre si – ou seja, quais setores atendem às demandas dos outros por serviços e produtos e quais setores compram de quem. Com isso, podemos ter uma visão mais detalhada da dependência mútua entre os setores.

Para ilustrar como a ideia do modelo de insumo-produto se aplica à pesquisa da água, vamos analisar a tabela de recursos e usos físicas, que informam (i) as retiradas por captação do meio ambiente para a economia, (ii) os fluxos da água dentro da economia e (iii) o retorno da economia para o meio ambiente.

A leitura dessa tabela nos mostra que do total das atividades econômicas, o setor de hidroenergia é o que possui maior participação tanto no uso total da água (linha 3) quanto no total fornecido de água (linha 6), como era esperado – já que a água é o principal negócio desse setor. Mas quando avaliamos o consumo total de água, dado pela diferença entre a demanda e a oferta (linha 7), as atividades que despontam como as maiores consumidoras são (i) agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura e (ii) indústrias de transformação e construção.

Tabela 1 – Tabela de Recursos e Usos Física

 

E como o uso da água pelas atividades econômicas relaciona-se com a produção?

Será que as atividades com maior consumo de água geram maior retorno monetário à economia? Para isso faremos uso das tabelas de recursos e usos híbridas, que relacionam os valores monetários de produção, consumo e custos associados à água.

A leitura da tabela abaixo nos evidencia que, em valores monetários e em geral, a participação do consumo intermediário por atividade econômica aproxima-se da participação da produção por atividade econômica. Por exemplo, do total do consumo intermediário e usos finais, a atividade de indústrias extrativas consumiu 3,0% da água para sua produção. Essa mesma atividade econômica teve participação de 2,5% no total produzido que utilizou a água como insumo para essa produção – ou seja, em valores monetários a participação do consumo intermediário ficou próxima da participação da produção.

Se avaliarmos o setor nomeado como “demais atividades” na penúltima coluna dessa tabela identificamos que a eficiência produtiva dessas atividades é alta. Ao dividir a produção pelo consumo intermediário temos uma relação de 2,8 – ou seja, para cada 1 unidade monetária de água consumida esses setores são capazes de produzir 2,8 unidades monetárias.

Tabela 2 – Tabela de Recursos e Usos Híbrida – compilação dos dados

 

Empresas brasileiras já discutem no Fórum Mundial da Água a inclusão de medidas sobre o bom uso desse insumo:

  • na estratégia dos negócios para mitigar os riscos dos recursos hídricos para as operações;
  • na promoção do engajamento sobre o insumo na cadeia produtiva (link da reportagem sobre o tema); e
  • no aumento da eficiência econômica sob o ponto de vista quantitativo e qualitativo, mensurada em análises como o Value for Money (link da publicação sobre o assunto aqui).

O entendimento e o bom uso desses dados, que passarão a ser divulgados sistematicamente pelo IBGE, pode contribuir não só para a mitigação de riscos associados aos recursos hídricos, mas também para a identificação de oportunidades na cadeia produtiva.

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