Capital Intangível e a Economia da Informação

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Capital Intangível e a Economia da Informação

A notícia de que a empresa Spotify vai abrir seu capital na Bolsa de Valores de Nova Iorque nos oferece uma boa oportunidade para discutir um conceito cada vez mais relevante na nova economia da informação: o capital intangível.

A teoria econômica ainda dá seus primeiros passos em compreender esta nova dimensão da economia, em que a reprodução de um “serviço” tem “custo adicional igual a zero”, como copiar e colar um arquivo em sua pasta do Windows Explorer, comprar músicas pelo iTunes, difundir um vídeo pelo WhatsApp e compartilhar um texto pelo Facebook, assistir a um seriado várias vezes pelo Netflix ou tocar a mesma música no seu Spotify.

Note que as empresas acima, e várias outras como Airbnb, Uber e Alibaba etc., diferem de uma Volkswagen ou de uma Petrobrás pelo foco da construção da sua marca essencialmente em capital humano e inovação.; ou seja, capital intangível!

O capital humano diz respeito às competências dos funcionários, colaboradores e gestores de uma empresa, bem como sua formação,  experiência profissional, capacidade de agregar valor por meio da criação e execução de projetos inovadores que alteram as regras do jogo nos vários mercados.

A inovação é uma atividade de elevados custo e risco, por envolver saltos sobre um abismo enevoado em que não se enxerga o outro lado. E, por isso, envolve uma constante busca por colchões amortecedores em caso de queda, isto é, capitais e parcerias agregadoras de possibilidades tecnológicas sujeitas à comercialização.

As empresas mencionadas acima mudaram o nome do jogo em vários segmentos, mas têm de lidar com o desafio de provar trimestralmente ao mercado que o seu capital intangível gerará a riqueza esperada pelo acionista (leia mais aqui).

Como reportado pela Bloomberg, a “Netflix está queimando dinheiro para adquirir mais programação, dizendo aos investidores que é para financiar o crescimento futuro. A Spotify entrega mais de 70% das suas vendas aos titulares de direitos musicais, apesar dos esforços para melhorar suas margens de lucro”.

Este desafio é enfrentado por qualquer empresa do século XXI, mesmo aquelas empresas cujos modelos de negócio já são profundamente conhecidos pelo mercado, como uma Bayer ou um Citibank.

Conhecimento e inovação exigem que as empresas permaneçam correndo apenas para se manter na mesma posição. O fato de o mercado dar valor a este tipo de ativo eleva a importância dos ativos intangíveis das empresas, que, segundo estimativas recentes, representam cerca de 75% dos ativos das 500 maiores empresas dos EUA e já representam 14% do valor adicionado bruto nos EUA e já dominam o valor dos ativos dentro das cadeias globais de valor (p. 28 do Relatório de Propriedade Intelectual Mundial aqui). Jonathan Haskel advertiu em seu livro Capitalismo sem Capital (Capitalism without Capital) que a geração de valor se transforma rapidamente e a intangibilidade parece ser a norma na economia da informação.

No Brasil, os intangíveis são associados comumente a gastos com Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), a ponto de fomentar a iniciativa da Lei da Bem que oferece isenção fiscal a empresas engajadas em atividades inovativas. A Lei 11.638/2007 avançou na reformulação do subgrupo “Intangível”, definindo-o como componente do Ativo Permanente no Balanço Patrimonial, vinculando as normas brasileiras a padrões internacionais, como mostra Crisóstomo (2009).

Contudo, há muito mais em jogo aqui do que a contabilidade consegue captar. Um estudo de 2006 feito para o Brasil demonstrou que “o desempenho econômico (geração de valor) das empresas intangível-intensivas é melhor do que o das empresas tangível-intensivas”. Por isso, o Brasil não pode perder nem mais um segundo, como defendeu Pedro Luiz Passos recentemente: “É a economia dos algoritmos emergindo. Incerto é apenas o alcance das transformações. Não há tempo a perder. A nova onda do progresso passa por inteligência artificial, modelos de negócios inovadores e tecnologias conexas —e nós, no Brasil, nem começamos a discutir por onde começar”.

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