Existe relação entre a taxa de câmbio e o PIB?

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Existe relação entre a taxa de câmbio e o PIB?

No primeiro post sobre indicadores antecedentes, mostrei como existem conexões entre variáveis econômicas que podem servir como “previsores” imperfeitos do futuro. Neste artigo, apresentarei uma ideia similar, com foco nas relações inusitadas que a análise estatística pode revelar.

Comecemos com a pergunta apresentada no título deste post: é possível encontrar uma relação entre taxa de câmbio e PIB?

Em artigo publicado no jornal Valor Econômico, o professor Nelson Marconi (FGV-SP) mostrou que a taxa de câmbio real, defasada em 12 meses, ajuda a explicar o comportamento das exportações. O gráfico abaixo mostra como a taxa de câmbio real (corrigida pela inflação) hoje afeta o volume físico (quantum) de exportações após um ano.

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A partir desta conexão, fizemos o mesmo exercício para entender como a taxa de câmbio se ajusta ao comportamento do PIB. A ideia é simples: se a taxa de câmbio afeta as exportações e estas fazem parte do PIB, deve haver alguma conexão entre a taxa de câmbio e PIB.

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O gráfico 1 abaixo sugere não haver nenhum comportamento comum entre as duas variáveis. Note que a taxa de câmbio nominal (preço do dólar em reais) segue um trajetória cíclica (oscilando entre altas e baixas demoradas), enquanto o PIB segue uma tendência crescente.

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Para o olho nu, esta seria uma relação inexistente. Em problemas deste tipo as ferramentas estatísticas podem desmentir as aparências. Senão, vejamos.

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Observe que para os anos de 2015 e 2016, o valor nominal do PIB é adequadamente projetado pelo modelo formulado. Esta validação nos indica que podemos ter confiança no modelo para “prever” o futuro.

Para 2017, encontramos uma variação percentual do PIB nominal de 5,4%. Se descontarmos desta taxa de crescimento a inflação projetada pelo mercado para o ano (em torno 3,78%), encontramos um crescimento real do PIB projetado de 1,32% para o ano de 2017, em linha com as previsões do mercado no momento em que escrevemos este artigo.

Este foi apenas um breve exercício para ilustrar como as ferramentas estatísticas nos permitem enxergar além do que os olhos conseguem ver.

A realidade é bastante complexa e não se pode acreditar na existência de um único modelo que explique o funcionamento do mundo e que, portanto, permita prevê-lo em quaisquer das suas dimensões. As relações entre variáveis macroeconômicas são transitórias e imperfeitas, pois muitos fatores afetam simultaneamente o comportamento delas.

Mesmo assim, um rápido exercício mostrou que a estatística pode ser útil. A despeito de tanto “ruído” nos dados, conseguimos obter um resultado razoável quando o comparamos com os modelos mais sofisticados de mercado.

Imagine o que não se pode fazer em nível de um único mercado, onde há bem menos “ruído”?

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