Expectativas são causa ou efeito do comportamento do PIB?

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Expectativas são causa ou efeito do comportamento do PIB?

Por não se referirem ao dia-dia da população, muitas pessoas têm a impressão de que as expectativas são parte irrelevante do comportamento das variáveis econômicas. Quando tudo vai bem, tem-se a impressão de que são dispensáveis, pois apenas refletem o que já está acontecendo. Em momentos de incerteza, todavia, parece que as expectativas atrapalham, reforçando o pessimismo.

Em consultorias, treinamentos e palestras, ouvimos com frequência que seria melhor se os jornais não divulgassem as expectativas dos agentes quando estas forem pessimistas, para não contaminar o otimismo alheio. Os jornais fariam, nestes casos, um enorme desserviço à sociedade. Apesar de fazer sentido, um olhar mais cuidadoso revela: as expectativas são mais reais e mais importantes do que se imagina.

A economia estuda a forma como a sociedade organiza a sua produção e distribui os frutos do trabalho humano. Logo, o fator “decisão” é central. Como toda decisão se orienta para o futuro, expectativas são fundamentais, por guiarem ações que se estenderão pelo período futuro com algum grau de irreversibilidade.

Quanto maior a incerteza percebida no ambiente futuro, mais as pessoas tendem a adiar decisões que imobilizem seus recursos e as impeçam de mudar de estratégias de investimentos.

Pense na seguinte situação: um empresário observa que sua produção está operando com larga margem de capacidade ociosa. Por conta da recessão duradoura, ele teve de demitir muitos funcionários e desativar uma parcela importante da operação.

Recentemente, ele vem percebendo uma redução dos seus estoques, mas considera que isso pode ser apenas uma variação localizada na demanda de sua clientela. Para confirmar suas impressões, ele liga para sua rede de contatos e percebe que a melhoria é mais ampla. Seus clientes passam a sondá-lo sobre a possibilidade de entregas mais frequentes e sobre a disponibilidade de produtos e serviços.

Com a percepção de futuro já levemente alterada, ele abre o jornal e nota que as expectativas de empresários e economistas, como mostra o gráfico abaixo, apontam para uma melhoria do PIB (canto direito do gráfico). Expectativas próximas de zero adquirem tendência de alta novamente.

A partir deste momento, entra em movimento o efeito multiplicador da rede de conexões econômicas que constitui a macroeconomia. O gasto de um equivale à renda do outro. Conforme as encomendas aumentam, a produção é acelerada. As contratações de trabalhadores aumentam e, com o tempo, os salários pagos vão chegando à economia, na forma de consumo.  As expectativas de faturamento formadas lá atrás vão sendo confirmadas pela realidade.

Aos poucos, o dinamismo em algumas partes do sistema (setores chamados de “motores do crescimento”) vai reativando a atividade em outras partes da economia. Neste momento, expectativa e realidade se reforçam mutuamente e a economia engrena numa fase de ascensão sustentada.

Note, todavia, que as expectativas apenas terão efeito sobre a economia real se houver um movimento coordenado (espontâneo ou puxado pelo governo) da parte dos empresários. Este movimento é, infelizmente, muito difícil de ser captado com precisão, o que explica os recorrentes erros de previsão por parte dos economista.

Por exemplo, pelo gráfico, dificilmente se conseguiria prever o comportamento do PIB com base nas expectativas ao longo de 2014 e 2015. Neste período, conseguimos perceber que a desconfiança com a retomada demorou a dissipar. O PIB realizado retomada a ascensão, mas as expectativas eram todas cada vez mais pessimistas. Conforme ficam mais evidente a retomada do crescimento, as expectativas começam a responder, e colam-se ao PIB.

Em suma, expectativas são importantes motores da atividade econômica e não tem nada de irreal. Por este motivo, a comunicação de firmas e do governo é tão importante, para que o horizonte da decisão seja o mais longo possível, permitindo aos empresários tenha segurança para se lançarem em projetos duradouros que incrementem a produtividade dos trabalhadores e das empresas.

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