É fato consensual na teoria econômica que a infraestrutura de um país é determinante para atingir taxas de crescimento sustentadas. Ao reduzir custos de operação e de transação, uma infraestrutura de qualidade amplia a eficiência dos mercados e reduz os riscos nos negócios.

Em 2016, o governo federal lançou um pacto audacioso de concessões de serviços de infraestrutura ao setor privado, o chamado Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), que cobre diversos modais de transporte, com a concessão de rodovias federais, de aeroportos e terminais portuários.

O programa de concessões rodoviárias busca suprir parte das necessidades de investimento em infraestrutura de transportes. Em sua nova etapa, o programa inclui tanto a concessão de novos lotes quanto a renegociação de trechos com contratos em fase de término. Grupos antes fora desse negócio, como fundos de investimento e investidores estrangeiros, têm demonstrado interesse nestas oportunidades. O resultado é a configuração de um novo perfil de concorrência no setor. Transformações desta magnitude requerem um enorme esforço de adaptação dos players de mercado já estabelecidos.

A questão central que se coloca é, portanto: como as concessionárias com contratos vigentes podem se preparar?

Para responder a esta pergunta, precisamos compreender melhor esse novo perfil de concorrência, que engloba: (1) os modais alternativos já existentes; e (2) os novos concorrentes no mercado. Neste post cobriremos apenas o primeiro item; o segundo fator será abordado em publicação futura.

Apresentaremos a seguir um conjunto de perguntas norteadoras que as empresas já atuantes precisam responder para identificar potenciais de melhorias, bem como fragilidades fáceis de serem ignoradas.

Para descrever os desafios, faremos um estudo de caso: trata-se de uma grande rodovia concedida pelo Estado de São Paulo, destacada em azul no mapa abaixo. Esse trecho sob concessão faz parte da interligação de duas regiões que possuem alta relevância no transporte de cargas do Brasil: Campinas <-> entorno de Brasília (destacados nas áreas em verde).

Primeira pergunta: esta rodovia (linha azul) sofre concorrência com outro modal no transporte de cargas? Análises realizadas sobre as matrizes de origem-destino evidenciaram que 97,3% de todo o volume de carga transportado nesse trecho é de Granel Líquido. Ora, em geral Granel Líquido é transportado por cabotagem, mas a avaliação dos demais modais de transporte revela que esse não é o caso para o trecho em questão, conforme evidenciado pelo próximo mapa. Esse trecho, todavia, concorre diretamente com a ferrovia, que transita em paralelo com a rodovia. Nesse caso, o desafio é encontrar uma forma de estimular o transporte dessas cargas pelo modal rodoviário.

A próxima pergunta é: além da concorrência com o modal ferroviário, esta rodovia (linha azul) concorre com alguma outra rodovia sob concessão? No próximo mapa mostramos que a BR-153 (linha vermelha), incluída no novo programa de concessões do governo Federal, compete com os modais rodoviário e ferroviário em análise.

Desta forma, o esforço de planejamento estratégico deve considerar estas questões para que a rentabilidade dos empreendimentos nesta área seja garantida.

Como salientamos no início do texto, além destes desafios já existentes, o setor de transporte inter-regional está passando por mudanças importantes que podem alterar de forma significativa a interação dos players neste mercado. Por isso, a identificação de tendências e relacionamentos do transporte rodoviário de cargas com outros modais e outros players mostra-se fator fundamental para aqueles que querem se antever aos movimentos de mercado de ampliar os resultados.

A pergunta que deixaremos para outra ocasião é, portanto: como o novo perfil de concorrência que está chegando com as novas concessões irá alterar o mercado de transporte de cargas no Brasil?

Referências

http://www.valor.com.br/brasil/5090930/concessoes-de-rodovias-terao-duas-fases

http://www.novasconcessoes.sp.gov.br/noticias/2017/02/concessoes-de-rodovias-paulistas-despertam–interesse-de-investidores-estrangeiros.php